Eu escrevo tanto sobre você e sobre nós dois; sobre o modo como você sorri e a doçura do seu olhar; sobre seu jeito; sobre o jeito que você me toca; sobre nossos instantes; sobre andar de mãos dadas com você e sobre dividir um sorvete; sobre ficar horas só olhando você; sobre dormir ao seu lado; sobre cuidar de você e velar seu sono; sobre o que sinto quando me abraça e sobre nós dois no altar; sobre nossas músicas preferidas e sobre nossas crianças. Eu escrevo tanto sobre tantas coisas que nunca vi e que nunca senti. Nos pinto um conto de fadas (sem fadas) praticamente inexistente. É que eu sonho muito com nós dois, meu amor, e com o que podemos ser. Me perdoe, eu não queria fantasiar tanto. Mas é que, se não nos invento, periga de eu enlouquecer com a dor desse nós assim você-lá-e-eu-cá. É tanta distância, mas tanto amor. Eu bem tento escrever sobre outras coisas, mas eu mal começo e lá vem você pendurando-se nos meus pensamentos, brincando com minhas ideias. E eu sigo escrevendo sobre o que nunca vi, o que nunca senti. Sigo escrevendo você, porque esse é o meu jeito de nos ter. Essa é a forma que eu tenho de viver nós dois e apaziguar minha dor. Enquanto continuarmos assim, seguirei escrevendo. Seguirei escrevendo nós dois.

Fechei meus olhos lentamente e você já estava ali. Me olhava docemente. Seu sorriso meio torto, meio sem graça, seus olhos atentos esperavam por um sinal meu. Estava tão confortável e relaxado naquela pose, a mais bela fotografia. Vestia a calça jeans preferida e a minha camisa (a que havia lhe dado de presente). Eu amava aquela calça porque ela sempre lhe caui tão bem, como se tivesse sido feita especialmente para você. E a minha camisa... ainda podia-se sentir meu cheiro nela, agora misturado com o seu. A camisa parecia tão certa para você. Tão certa quanto eu. O pé apoiado na parede atrás dava-lhe um ar de quem estava à vontade, mas as mãos nos bolsos lhe traíam. Sempre escondia as mãos quando não sabia o que fazer. Você continuava esperando por um sinal meu. Mas eu queria guardar aquela imagem em minha mente - tão perfeita! Não era só você, mas o conjunto em si. A luz crepuscular, as pessoas circulando ao nosso redor, a roupa que você vestia, o som de mar e campo de flores, e até a parede grafitada atrás de você. Eu conhecia bem aquela inscrição. "Do nosso amor a gente é quem sabe, pequena" Você murmurou as palavras ao mesmo tempo em que eu as lia. Não que eu precisasse ler para saber. Eu sabia. E você continuou esperando por um sinal meu. Seu sorriso despreocupado revelou sua única certeza: a decisão que eu tomasse seria a mais acertada para nós, fosse qual fosse. Eu lhe devolvi um sorriso radiante e igualmente apaixonado, embora tímido. Você tirou as mãos dos bolsos e as estendeu para mim. e nesse instante tive o vislumbre que me parou o coração por uma fração de segundo e descompassou minha respiração. Pisquei os olhos para ter certeza, mas, quando os abri, tudo tinha desaparecido. Você, o cenário, o barulho de mar e campo de flores, o cheiro de nós dois... Era um anjo, e me parece que eu já sabia. Era um anjo.