Eu lhe escrevi umas palavras de amor em minhas coxas. Perdidas para sempre. Perdidas porque você nunca as leu, e a água do banho lavou. Não foram as primeiras, não serão as últimas. Já lhe escrevi canções e cartas em minhas coxas, todas perdidas para sempre. Eram para você. Eram para você ler e ninguém mais. Eram as minhas-suas palavras. Agora são apenas tinta de caneta no esgoto. Eram tatuagens de sentimento impressas na pele. Mas o sabonete quebrou as moléculas e agora... agora não passam de tinta de caneta, de lixo com o lixo no esgoto. Minhas palavras para você, lixo no esgoto. Meu vômito no esgoto.
Hoje comecei a apagar os últimos vestígios de que você esteve aqui. Já passa da hora de lhe tirar todo esse espaço. Já tem alguém tão lindo me oferecendo mais do que você me deu. Já passava das duas quando peguei meu celular e li uma última vez aqueles 307 sms. Não vai acreditar: nenhum deles me feriu! Suas palavras não estavam mais espinhosas, nem mais sedosas. Eram apenas palavras. Eram apenas você, que veio e se foi de uma forma que ainda não compreendo. Apaguei-os. Os 307 sms, todos de uma só vez. E não me doeu. Você já ficou tempo demais ocupando-me toda. Agora tenho espaço (bastante espaço!) para ele no meu celular. Agora tenho todo o espaço da minha mente para ele e guardo apenas lembranças insólitas de você. Em breve terei lhe relegado a apenas um espacinho em respeito ao amor sem fim e ao sofrimento sem fim. E quando isso acontecer, poderei enfim dar tudo que tinha guardado pra você. Ainda me resta muito amor para dar, muita vida para viver. Eu não quero mais saber de você. Hoje comecei a apagar os vestígios de sua passagem, há tanto pra viver e eu... Quem é mesmo você?
Sh. Me faz promessas não. Fica só aí, lindinho e incerto. Não me convida a fazer planos, não fala em me dar o céu. Deixa assim como estamos. É que me engano muito fácil, viu? Soa bem estranho, mas eu quero manter esse medinho. Você também o sente? Algo como medo de perder algo grande e importnate. É confuso. Eu poderia simplesmente te prender, ou soltar de vez, mas tem esse medinho gostoso. Eu não estou no controle, você não está também. Estamos apenas jogando esse joguinho de ninguém, cada um mostrando suas cartas lentamente, conforme nos dá vontade. Me desculpe se nos coloco num tabuleiro. Vendo de fora é o que parecemos: peões do jogo que ninguém está jogando. Então deixa assim, tá? Eu não quero encher minha mente de diálogos impossíveis ou atiçar em minha imaginação momentos improváveis. Me faz promessas não. Deixa eu pensar que não te tenho. Assim é melhor.
Eu escrevo tanto sobre você e sobre nós dois; sobre o modo como você sorri e a doçura do seu olhar; sobre seu jeito; sobre o jeito que você me toca; sobre nossos instantes; sobre andar de mãos dadas com você e sobre dividir um sorvete; sobre ficar horas só olhando você; sobre dormir ao seu lado; sobre cuidar de você e velar seu sono; sobre o que sinto quando me abraça e sobre nós dois no altar; sobre nossas músicas preferidas e sobre nossas crianças. Eu escrevo tanto sobre tantas coisas que nunca vi e que nunca senti. Nos pinto um conto de fadas (sem fadas) praticamente inexistente. É que eu sonho muito com nós dois, meu amor, e com o que podemos ser. Me perdoe, eu não queria fantasiar tanto. Mas é que, se não nos invento, periga de eu enlouquecer com a dor desse nós assim você-lá-e-eu-cá. É tanta distância, mas tanto amor. Eu bem tento escrever sobre outras coisas, mas eu mal começo e lá vem você pendurando-se nos meus pensamentos, brincando com minhas ideias. E eu sigo escrevendo sobre o que nunca vi, o que nunca senti. Sigo escrevendo você, porque esse é o meu jeito de nos ter. Essa é a forma que eu tenho de viver nós dois e apaziguar minha dor. Enquanto continuarmos assim, seguirei escrevendo. Seguirei escrevendo nós dois.
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